"(...) a condição inicialmente escrava dos primeiros (negros) e as conseqüências sócio-históricas a ela vinculadas contribuíram para acentuar a diferença que fundamenta a discriminação, mas o complexo processo de miscigenação aqui efetivado teceu o véu que pretende disfarçar o preconceito e que precisa ser permanentemente denunciado(...)” (Proença Filho, 1975)
Neste aniversário de 122 anos da abolição formal da escravidão de negras e negros africanos e seus descendentes, percebemos o quanto esta população ainda permanece violentada em seus direitos e vitimada pelas injustiças sociais. A Lei Áurea foi assinada, mas as seqüelas das mentalidades senhoriais e escravistas em nossa sociedade ainda estão vivas, continuam pulsantes e adquiriram novas formas e nuances.
O IBGE confirma que negras e negros, jovens e mulheres são mais prejudicados com as demissões, fruto da crise financeira mundial. Segundo o Ipea, negras e negros ganham menos, trabalham mais e em piores ocupações. São a maior parte entre os sem carteira assinada e são a maioria em serviços domésticos, agricultura e construção civil. Incluem-se mais cedo no mercado de trabalho e saem mais tarde. Crianças negras são as maiores vítimas do trabalho infantil. Mulheres negras são as que mais sofrem com a violência doméstica e sexual e a juventude negra continua sendo alvo preferencial das polícias militares e civis.
Segundo os dados do Atlas Racial Brasileiro, divulgados pelo PNUD, em 2004, 65% dos pobres e 70% dos indigentes brasileiros são negros. A pesquisa mostra ainda que, apesar de uma queda nos números de mortalidade infantil, as taxas entre os filhos de mulheres negras são 66% acima das registradas entre os de mulheres brancas. É inegável que a pobreza e a exclusão neste país que se orgulha de proclamar sua igualdade racial e a democracia multiétnica têm cor e raça. Somos nós, negras e negros e todos os afro-descendentes desse enorme país, que ainda nos constituímos na grande maioria oprimida, excluída e marginalizada.
A área da saúde também explicita essas diferenças. Os indicadores de saúde no Brasil sugerem que existe uma grande diferença entre brancos e negros no acesso a cuidados médicos. Enquanto a população branca vive, em média, até os 71 anos, a negra morre aos 66 anos. Na mortalidade infantil, o quadro é semelhante. De cada mil bebês brancos, cerca de 23 morrem antes de completar 1 ano. Já entre os negros, esse número sobe para 38. Os dados são do Censo 2000, do IBGE. A diferença entre os indicadores reflete em grande parte as “dificuldades de acesso aos serviços de saúde, o diagnóstico tardio, a baixa qualidade da atenção oferecida, tratamento inexistente, inadequado e/ou ineficiente para a população negra”.
Negra/os e brancas/os pobres pertencem a uma só classe: a classe trabalhadora. No entanto, sofrem de maneira diferente as contradições desse sistema, seja por via do racismo, do machismo ou da exploração econômica.
Ao mesmo tempo percebe-se a resistência cada vez maior das forças conservadoras e racistas em impedir avanços de direitos da população negra. Em São Paulo o próprio ex-governador José Serra já explicitou seu posicionamento contrário às políticas públicas para negras e negros.
A libertação trouxe poucas alterações para as populações negras do país. A libertação das senzalas significou um novo confinamento, dessa vez nas favelas, onde ainda hoje os negros morrem indistintamente, acusados de forma banal de liderarem o tráfico de drogas ou simplesmente alvos de balas perdidas, vítimas sociais de uma violência que pouca atenção recebe por parte dos poderes constituídos. Por isso, a abolição é inacabada, jamais foi completada, e tanto o Estado Nacional do Brasil, quanto a sua sociedade, jamais elaboraram qualquer projeto que tivesse por objetivo minimizar os males de mais de três séculos de escravidão.
A luta contra o racismo deve ser permanente e militante. Sabemos que o racismo serve como ferramenta de manutenção da concentração de renda e do poder. Lembremos as palavras de Malcon-X: “Enquanto houver capitalismo haverá racismo”. Nessa luta, é importante a construção de novos aliados, até porque essa não é uma luta exclusiva dos afro-brasileiros, mas de todos aqueles que sonham com um mundo onde a origem étnica, religiosa ou social não seja usada para a negação de direitos fundamentais a qualquer ser humano como é a educação, a saúde ou o trabalho.
Caminhemos e lutemos todas e todos juntos, ensinando desde já os nossos filhos e filhas, a construir um outro mundo possível, um mundo solidário, fraterno e justo, livre de injustiças, preconceitos e opressões de quaisquer tipo.
Um grande abraço!!!
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." NELSON MANDELA
Paulinha
Neste aniversário de 122 anos da abolição formal da escravidão de negras e negros africanos e seus descendentes, percebemos o quanto esta população ainda permanece violentada em seus direitos e vitimada pelas injustiças sociais. A Lei Áurea foi assinada, mas as seqüelas das mentalidades senhoriais e escravistas em nossa sociedade ainda estão vivas, continuam pulsantes e adquiriram novas formas e nuances.
O IBGE confirma que negras e negros, jovens e mulheres são mais prejudicados com as demissões, fruto da crise financeira mundial. Segundo o Ipea, negras e negros ganham menos, trabalham mais e em piores ocupações. São a maior parte entre os sem carteira assinada e são a maioria em serviços domésticos, agricultura e construção civil. Incluem-se mais cedo no mercado de trabalho e saem mais tarde. Crianças negras são as maiores vítimas do trabalho infantil. Mulheres negras são as que mais sofrem com a violência doméstica e sexual e a juventude negra continua sendo alvo preferencial das polícias militares e civis.
Segundo os dados do Atlas Racial Brasileiro, divulgados pelo PNUD, em 2004, 65% dos pobres e 70% dos indigentes brasileiros são negros. A pesquisa mostra ainda que, apesar de uma queda nos números de mortalidade infantil, as taxas entre os filhos de mulheres negras são 66% acima das registradas entre os de mulheres brancas. É inegável que a pobreza e a exclusão neste país que se orgulha de proclamar sua igualdade racial e a democracia multiétnica têm cor e raça. Somos nós, negras e negros e todos os afro-descendentes desse enorme país, que ainda nos constituímos na grande maioria oprimida, excluída e marginalizada.
A área da saúde também explicita essas diferenças. Os indicadores de saúde no Brasil sugerem que existe uma grande diferença entre brancos e negros no acesso a cuidados médicos. Enquanto a população branca vive, em média, até os 71 anos, a negra morre aos 66 anos. Na mortalidade infantil, o quadro é semelhante. De cada mil bebês brancos, cerca de 23 morrem antes de completar 1 ano. Já entre os negros, esse número sobe para 38. Os dados são do Censo 2000, do IBGE. A diferença entre os indicadores reflete em grande parte as “dificuldades de acesso aos serviços de saúde, o diagnóstico tardio, a baixa qualidade da atenção oferecida, tratamento inexistente, inadequado e/ou ineficiente para a população negra”.
Negra/os e brancas/os pobres pertencem a uma só classe: a classe trabalhadora. No entanto, sofrem de maneira diferente as contradições desse sistema, seja por via do racismo, do machismo ou da exploração econômica.
Ao mesmo tempo percebe-se a resistência cada vez maior das forças conservadoras e racistas em impedir avanços de direitos da população negra. Em São Paulo o próprio ex-governador José Serra já explicitou seu posicionamento contrário às políticas públicas para negras e negros.
A libertação trouxe poucas alterações para as populações negras do país. A libertação das senzalas significou um novo confinamento, dessa vez nas favelas, onde ainda hoje os negros morrem indistintamente, acusados de forma banal de liderarem o tráfico de drogas ou simplesmente alvos de balas perdidas, vítimas sociais de uma violência que pouca atenção recebe por parte dos poderes constituídos. Por isso, a abolição é inacabada, jamais foi completada, e tanto o Estado Nacional do Brasil, quanto a sua sociedade, jamais elaboraram qualquer projeto que tivesse por objetivo minimizar os males de mais de três séculos de escravidão.
A luta contra o racismo deve ser permanente e militante. Sabemos que o racismo serve como ferramenta de manutenção da concentração de renda e do poder. Lembremos as palavras de Malcon-X: “Enquanto houver capitalismo haverá racismo”. Nessa luta, é importante a construção de novos aliados, até porque essa não é uma luta exclusiva dos afro-brasileiros, mas de todos aqueles que sonham com um mundo onde a origem étnica, religiosa ou social não seja usada para a negação de direitos fundamentais a qualquer ser humano como é a educação, a saúde ou o trabalho.
Caminhemos e lutemos todas e todos juntos, ensinando desde já os nossos filhos e filhas, a construir um outro mundo possível, um mundo solidário, fraterno e justo, livre de injustiças, preconceitos e opressões de quaisquer tipo.
Um grande abraço!!!
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." NELSON MANDELA
Paulinha
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